terça-feira, 16 de junho de 2009

“CAMINHOS PARA O DESENVOLVIMENTO DE RIBEIRÃO DAS NEVES”

A cidade de Ribeirão das Neves está situada no eixo norte da região metropolitana de Belo Horizonte, e pode ser considerada digna de um laboratório de estudos, no que diz respeito às dinâmicas relacionadas ao crescimento urbano de uma cidade, assim como, as conseqüências e reflexos sócio-culturais e ambientais decorrentes desse processo. Para que possamos entender melhor o caso específico deste município, devemos voltar no tempo e analisar alguns fatores que ocorriam num contexto nacional e regional.

A partir da década de 50, o Brasil passava por um processo de transformação na sua estrutura social e econômica, tendo neste período, a maior parte de sua população ainda residindo e atuando no campo. Desta época em diante, tanto o campo quanto as grandes cidades começaram a se desenvolver de formas distintas, o campo passando por um processo de mecanização e as principais capitais do país, se firmando como pólos atrativos de investimento e de crescimento urbano-industrial. As conseqüências do processo de mecanização e de modernização do campo influenciaram diretamente nas relações de trabalho, substituindo a mão de obra braçal pelas máquinas, gerando o desemprego estrutural e fazendo com que um grande contingente de pessoas começasse a se dirigir do campo para a cidade, que ao contrario, oferecia melhores condições de vida e oportunidades de emprego “para todos”.
A cidade de Ribeirão das Neves, que especificamente na década de 50, possuía 2.223 habitantes, começou a sofrer diretamente o processo de metropolização, em decorrência das correntes migratórias direcionadas a capital de Belo Horizonte, entretanto, esses contingentes populacionais, esbarravam nos altos preços dos imóveis, nos processos de especulação imobiliária e na ausência de espaços para a população de baixa renda. A maior parte desta demanda migratória passou a se direcionar para a cidade de Ribeirão das neves, incentivada pela oferta de lotes sem infraestrutura e por esse motivo de baixo custo. Outros fatores, também foram determinantes para consolidar o cenário de crescimento descontrolado vivido por esta cidade, tais como, o estigma criado a partir da presença dos presídios, que de certa forma, provocou a desvalorização dos imóveis e desestimulou empreendimentos imobiliários de maior valor, aliado a isso, o poder público local, assumiu uma postura de conivência, que aliada, a inexistência de um corpo técnico qualificado para fiscalizar e realizar a normatização dos loteamentos permitiu que o processo de urbanização de Ribeirão das Neves acontecesse sem nenhum planejamento.

A cidade chegou a registrar um crescimento urbano da ordem de 21,36% número talvez nunca atingido por nenhuma cidade brasileira, em 1980 já estava com 67.280 e em 2001 com 255.207 habitantes segundo dados do IBGE. A falta de recursos públicos para atender as demandas de infra-estrutura da cidade, a inexistência de uma base econômica capaz de absorver a mão de obra local, e o baixo nível de qualidade de vida gerado por esses processos, ajudaram a agravar o quadro periferização e de carência de serviços básicos essenciais para a população da cidade.
Diante do quadro de acontecimentos históricos e da realidade urbana exposta acima, podemos afirmar que, os atuais e futuros gestores desta cidade, terão inúmeros desafios sócio ambientais a cumprir, dentre os quais citaremos e descreveremos sucintamente sobre alguns deles logo abaixo:

· Construir na cidade um processo de cidadania participativa;

No que tange a resolução dos problemas ambientais e estruturais da cidade a integração do poder público local com a comunidade é de vital importância, a cooperação entre essas partes deve estar afinada, no sentido de buscar a organização e de certa forma a socialização dos problemas e das soluções para cada caso específico. É possível obter a participação ativa da comunidade através de capacitação, organização e valorização da mesma, onde cada individuo seria incitado a “ajudar a ajudar-se”, isso o conduziria a auto-responsabilidade (auto-gestão) para resolver os próprios problemas (individuais, grupais e comunitários), e buscar melhorias continuas e de construção de um ambiente urbano mais saudável.

· Desenvolver as potencialidades locais;
Apesar da grande expansão urbana sofrida, a cidade de Ribeirão das Neves, ainda possui, grande parte do seu território constituído de áreas verdes. Se analisarmos pela perspectiva ambiental, que dia após dia, ganha mais repercussão e importância em nível nacional e mundial, veremos que esta particularidade poderia ser melhor explorada, através de incentivo a projetos de turismo ecológico e rural, projetos de agricultura sustentável, pesquisa e produção associada à biotecnologia ou até mesmo para suprir a grande deficiência de lazer da população local.
· Estimular ações de planejamento do desenvolvimento municipal a curto, médio e longo prazo;

Ao contrário do processo ocorrido no passado, o município de Ribeirão das Neves deve ser pensado e planejado, no sentido de reconstruir uma cidade mais digna e mais justa, que possa oferecer para seus moradores acesso a moradia, a saneamento ambiental, a infra-estrutura urbana, a transporte de qualidade e a preços acessíveis, a cultura, a lazer, a participação econômica e a serviços públicos que garantam a qualidade de vida e o prazer de viver na cidade. O sentimento de pertencimento do cidadão ao “lugar”, esta diretamente relacionado à qualidade do espaço que ele habita. Neste sentido, todas as ações atuais e futuras devem resguardar a preocupação com o planejamento local e regional, no contexto atual, devemos nos atentar para os processos que estão acontecendo no âmbito metropolitano (rodoanel, aeroporto industrial, linha verde, etc.) que podem ou que vão influenciar diretamente em nossa cidade. Se bem analisados e planejados essas ações podem significar a redenção da cidade ou ao contrário se tornar num novo processo de ocupação desordenado e o fim da esperança de se construir uma cidade melhor pra se viver. Portanto, as palavras de ordem para a cidade de Ribeirão das Neves, agora e para o futuro, são “PLANEJAMENTO E ORGANIZAÇÃO”.

Rodrigo Hott Pimenta

Geógrafo, formado pela PUC/MG e Pós Graduado em Gestão e Manejo Ambiental de Reservas Florestais pela UFLA/MG. Morador de Ribeirão das Neves desde 1989 iniciou sua atuação na área ambiental em 1995 como presidente do movimento ambiental META, nos últimos anos atua como gerente de educação ambiental na prefeitura municipal e como professor de geografia na E.E. José Bonifácio Nogueira.

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